quinta-feira, 28 de maio de 2015

Como viver o aqui e agora?

É sempre bom ver alguém fazer planos, vendo brilhar os olhos ao imaginar o futuro, a realização de algum sonho, a conquista de algo para o qual tanto se preparou. Da mesma forma, é positivo quando alguém se propõe a olhar para trás para não repetir maus comportamentos e para copiar o que fez de bom. Passado e futuro sempre são sábios quando nos ajudam a sermos melhores no presente. Mas podem ser nossos inimigos quando nos fazem esquecer o momento presente.

Estudos de abril deste ano, conduzidos em conjunto entre o National Center for Biotechnology Information, a U.S. National Library of Medicine e a The Associated Press, indicam que a nossa capacidade de atenção em uma tarefa gira em torno de 8 segundos até que uma distração nos  leve para outro foco. Embora a pesquisa nos aponte para situações simples do dia a dia, como trocar um livro pelo smartphone que avisou da chegada de uma nova mensagem, ela nos aponta um perfil de comportamento que pode trazer consequências mais graves.

O volume de informação que consumimos é grande e crescente a cada ano que passa. Somada a ele, vivemos uma crise econômica e política histórica, que está pondo em xeque muitas de nossas certezas, a começar pelo emprego e a capacidade de subsistência das famílias. Não é incomum, portanto, que um cenário como este, com um cardápio enorme de distrações e motivos concretos para preocupações práticas, produza stress e traga na bagagem doenças como a ansiedade e a depressão, que são a crise instalada de alguém preso ao passado ou ao futuro.

Tão importante quanto planejarmos o mês que vem, para que nada falte a nós e nossa família, é estarmos inteiros e capazes de darmos o melhor no dia de hoje. Igualmente no que se refere ao passado: conhecer-se e reconhecer nossas raízes são fundamentos indiscutíveis, mas inúteis se não influenciarem positivamente nosso comportamento atual.

Como conciliar, então, presente, passado e futuro, para que preservemos nossa saúde e experimentemos a felicidade? Em 1871, Sir William Osler, um dos médicos britânicos mais famosos de sua época, discursou aos alunos da Universidade de Yale e explicou o que descobrira 42 anos antes, e que considerava o segredo de seu sucesso até ali.

Contou-lhes que dias antes daquele discurso, ele havia atravessado "o Atlântico num grande navio, no qual o capitão, da ponte de comando, acionava um botão e -- pronto! -- havia um ruído de máquinas e, imediatamente, várias partes do navio eram isoladas, num instante, uma das outras -- isoladas em compartimentos hermeticamente fechados. 'Ora, cada um dos senhores' -- disse o Dr. Osler aos estudantes de Yale -- 'constitui uma entidade muito mais grandiosa do que o transatlântico, e está destinado a uma viagem muito mais longa. O que insisto que façam é que procurem aprender a controlar de tal modo o seu maquinismo que isso lhes permita viver em 'compartimentos diários hermeticamente fechados', como o meio mais certo de conseguirem realizar uma viagem segura. Vão à ponte de comando para ver se, ao menos, as grandes anteparas estão em ordem. Apertem um botão para ouvir, em todos os níveis de sua vida, as portas de ferro isolando o passado -- os dias mortos de ontem. Toquem noutro botão e separem, com uma cortina de aço, o futuro -- os 'amanhãs' que ainda não nasceram. Então, estão salvos -- salvos por um dia! Isolem o passado! Deixem o passado extinto enterrar os seus mortos. Afastem os 'ontens', que têm levado tantos tolos a caminho do pó. O fardo de amanhã, acrescentado ao fardo de ontem e carregado hoje, faz com que os mais fortes vacilem. Fechem bem, pois, as grandes anteparas da proa e da popa, preparando-se para cultivar o hábito de viver em 'compartimentos diários hermeticamente fechados.'"

Nenhum comentário:

Postar um comentário