sábado, 23 de maio de 2015

ISMA-BR entrevista o Dr. Artur Zular: "A felicidade é uma percepção que temos de nós mesmos e da vida." - parte 1

Para driblar o stress, como sugere a mesa-redonda que será realizada na manhã do dia 23 de junho, durante a programação do 15º Congresso de Stress, é necessário compreender o que o Dr. Artur Zular conceitua como "uma reação adaptativa essencial ao viver". Para o médico cardiologista, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (SP) e diretor científico do Comitê de Medicina Psicossomática da Associação Paulista de Medicina, o stress acabou sendo reconhecido no país como uma coisa ruim, embora apenas seja necessário fazer a sua administração. "O organismo não reconhece a origem da carga de adrenalina a qual às vezes é submetido. Eu dou o exemplo do indivíduo que ganhou na loteria. Quando ele fica sabendo que foi contemplado, o coração dispara, fica branco; que é exatamente o que ele sente quando tem uma má notícia. Fisicamente, o organismo não reconhece a origem, a resposta sempre é inespecífica. Do ponto de vista cognitivo, as competências de crítica, de compreensão, fazem com que o indivíduo, consciente ou inconscientemente, mapeie em que terreno está pisando. A avaliação se algo é bom ou ruim muitas vezes é subjetiva", define. "Existe o stress positivo, que é o eustresse, e o stress negativo, o distresse, e as pessoas se confundem muito."

O Dr. Artur Zular, que participará do Congresso tratando da temática "Felicidade, saúde e qualidade de vida", concedeu entrevista exclusiva ao blog da ISMA-BR, quando antecipou alguns de seus pensamentos:

Sobre felicidade e qualidade de vida
A felicidade é uma percepção que temos de nós mesmos, da vida. Ela tem um conteúdo cultural e familiar muito grande. Geralmente, fazemos um link dela com outra questão, a qualidade de vida. As pessoas dizem assim: "Vou largar esse emprego porque ele me estressa e quero ter mais qualidade de vida." Opa, este misturou um monte de coisas. Sobre o stress, nós já falamos; felicidade, eu disse que é uma percepção do bem-estar; e a qualidade de vida, onde entra isso? Por definição, qualidade de vida é, primeiro, o indivíduo estar bem consigo mesmo; segundo, saber administrar a energia para as diversas esferas do viver, o trabalho, família, saúde, lazer, espiritualidade. O indivíduo que se respeita, que está bem consigo mesmo, que sabe dosar a energia, ele tem uma qualidade de vida boa. E ela, definitivamente, não é algo que se compra. Porque ouvimos nas propagandas promessas do tipo: "compre o apartamento tal e tenha mais qualidade de vida". Às vezes, o tal apartamento que tem brinquedoteca, piscina etc., é tão longe do centro, ou do lugar onde o morador trabalha, que, por causa da distância e do trânsito, ele nem consegue aproveitar. Nestes momentos, o indivíduo lamenta: "Eu não estou feliz." Ele mora numa casa maravilhosa, tem um trabalho legal, mas não está feliz.

Sobre ansiedade
Nós vivemos em um mundo ansiogênico. A vida contemporânea é desfuncional, quanto a isso eu assino embaixo. Temos uma carga enorme de informações, você é assoberbado de informações. E não é mais só no seu computador, é no seu bolso: o seu celular recebe milhares de notícias de centenas de aplicativos, e você é invadido por informações. Não obstante, você é invadido por solicitações. Profissionais, familiares, de amigos; coisas que no passado, não existiam. Antes, era só e-mail, e já era muita coisa. Mais antigamente, nem e-mail existia. Quem queria falar com você, ligava. Quando você podia, você retornava. Com tudo isso, a nossa relação com o tempo ficou tremendamente ruim. Eu chamo de ciber stress. Além disso, as relações sociais são ruins, as pessoas têm vínculos frágeis. O convívio na família, intergeracional, se perdeu. Antigamente, avós, filhos e netos moravam mais próximos. Hoje, cada um vai para um lado, se isolam, e quando solicitados, não têm tempo para se vincular com os familiares. Estamos muito ligado às redes sociais, mas estamos todos mais solitários. As redes sociais são boas para construir pontes, para achar velhos amigos; mas não basta ficar só no virtual, tem que haver contato físico, olho no olho. A vida precisa acontecer na praça, no parque, no restaurante, na rua. Isso tudo cai nessa desfuncionalidade que é a ansiedade. Ansiedade é sofrer por antecipação, é imaginar que não vai dar conta de tantas tarefas e tantas solicitações, que muitas vezes o indivíduo mesmo coloca para si. Eventualmente, ele poderia viver com muito menos, ter muito menos. Ao contrário do dito popular, eu digo "deixe para amanhã o que você não pode fazer hoje". Tudo na vida é uma questão de prioridade.

Continua no próximo post.

Informações e inscrições para o 15º Congresso de Stress e demais eventos que fazem parte de sua programação: http://bit.ly/1DMUceL

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